quarta-feira, 9 de março de 2011

CRÍTICA DO CURRÍCULO OCULTO E DO MILITARISMO


Segundo Boaventura de Souza Santos, o pensamento crítico, para ser eficaz, tem de assumir uma posição paradigmática para, partindo de uma crítica radical do paradigma dominante, tanto dos seus modelos regulatórios como dos seus modelos emancipatórios, desenhar os primeiros traços dos horizontes emancipatórios em que eventualmente se anuncia o paradigma emergente.[1] Trata-se de fortalecer uma atitude crítica a esta cultura de violência que nos é imposta, fornecendo instrumental para perceber como a violência e o militarismo atuam em diversos canais, como, por exemplo, nos meios de comunicação, brinquedos e jogos de guerra.

A sociedade em que vivemos é mais militarista e violenta do que percebemos. A razão moderna é bélica e beligerante. E esta compreensão é de suma importância para o entendimento do fato social da violência. A violência, nas sociedades modernas, não é episódica – algo que está acidentalmente no caminho –, mas metódica – algo que perpassa todo o caminho. Faz parte da racionalidade moderna e é expressão do paradigma dominante. A mesma razão que desvendou os segredos do átomo, que nos fez conquistar o espaço, que conectou o mundo na velocidade da Internet, que penetrou nos segredos da fisiologia humana, aniquilou as civilizações ameríndias, colonizou a África, mandou Hiroshima e Nagasaki para os ares e impõe ao mundo o regime de todas as violências.

Há um currículo oculto que nos educa para a violência sem que percebamos. Há um paradigma – o bélico -, que norteia as ações, pensamentos, critérios, valores, estruturas da sociedade. Eduardo Galeano, num livro recente, para expressar esta realidade, criou a metáfora da escola do mundo ao avesso: “não requer exame de admissão, não cobra matrícula e dita seus cursos, gratuitamente, a todos e em todas as partes... O mundo ao avesso gratifica o avesso: despreza a honestidade, castiga o trabalho, recompensa a falta de escrúpulos e alimenta o canibalismo... Os países responsáveis pela paz universal são os que mais armas fabricam e os que mais armas vendem aos demais países...”.[2]



[1] SANTOS, Boaventura de Souza. A crítica da razão indolente: Contra o desperdício da experiência. São Paulo: Cortez, 2000, pg. 16.

[2] GALEANO, Eduardo. De pernas pro ar: a escola do mundo ao avesso. Porto Alegre: L&PM Editores, 1999, p. 5-7

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